VARROA (3)

LER TAMBÉM: VARROA(1) e VARROA (2)

Nesta minha terceira intervenção sobre este tema, decidi que seria a última dedicada ao mesmo.

Irei iniciar com a indicação de um produto, para o combate à Varroa, que alguns apicultores, mesmo experientes, poderão recordar pelas melhores razões, mas a meu ver dos maiores erros apícolas na nossa história apícola nacional. No entanto numa altura de total desconhecimento contra uma nova doença, talvez tenha sido, ou foi mesmo, a salvação de muitas colmeias/enxames e por consequente da atividade apícola. O que condeno, entretanto, é a continuação da utilização desse produto hoje em dia, principalmente face às informações disponíveis e ao fácil acesso ao conhecimento. Estou referir-me ao “Klartan”, produto desenvolvido para combater afideos, tais como o afídeo verde, o bichado da fruta, o pedrolho, e a cigarrinha em plantações de videiras, macieiras, pereiras e pessegueiros. Também já verifiquei a sua utilização em citrinos. Claro que esta solução encontrada, sabemos hoje, deveu-se ao princípio ativo “tau-fluvalinato”. Do mesmo modo ainda posso enumerar outro produto similar com o mesmo princípio ativo, “Mavrik”, que subtilmente refere “When used in accordance with the label Mavrik® has less impact on honey bees relative to other pyrethroid insecticides.” A minha principal crítica, e tem sido a de muitos, é qual a consequência da utilização reiterada destes produtos, seja um ou outro, no interior de uma colmeia, quando eles foram desenvolvidos para serem aplicados por aspersão em cima de plantas?

Aproveito para enumerar uma desvantagem na continuação do uso deste produto, talvez devido ao seu princípio ativo, mas decerto pela sua concentração. Já em 2010, estudos apresentaram uma acumulação de “tau-fluvalinato” nas ceras analisadas, devido ao tratamento com Apistan (homologado para a apicultura), mas principalmente com “Klartan”…), que são os dois dos acaricidas mais utilizados pelos apicultores desde os anos 80/90. O “tau-fluvalinato” estava presente em 93% das ceras analisadas.

A contaminação da cera é cada vez mais preocupante, não só para abelhas, mas também por ser um risco de saúde pública para os consumidores, nomeadamente no consumo de mel em favo.

Os resíduos que se vão acumulando ano após ano, com a reciclagem da cera, passam dos apicultores à moldagem da cera e voltam para outros apicultores, e assim se vão acumulando os múltiplos contaminantes, e aumentando a concentração.

Infelizmente o “klartan” foi considerado durante muitos anos uma mesinha universal, e sendo assim, dificilmente desaparecerá por completo. Principalmente devido aos enganos constantes de tratamentos novos ineficazes, do mau maneio de apicultores que não aplicam os tratamentos como é exigido, ou seja, por razões que já enumerei em intervenções anteriores. Ainda mais quando a aplicação do “klartan” conseguiu fazer parte de unidades de formação apícola e quando se pode encontrar a venda em lojas online, na internet, com a denominação “Klartan 1 litro controlo da varroa”, mas sobre isso não irei alongar-me. Já dei a entender a minha posição.

Se querem usar “tau-fluvalinato”, usem Apistan, dado que pelo menos foi desenvolvido para a atividade apícola.

Se olharmos por outro lado surge outro princípio ativo, cada vez mais conhecido pelo público apícola em geral, o “amitraz”. No contexto desta minha intervenção aparece outro produto, o “Citraz”, tal como o anterior, adquirido em Espanha, anti-parasitário para gado bovino. Refiro este produto, não só pela sua concentração de “amitraz”, mas também pelo testemunho de alguns apicultores, de modo negligente ou por ignorância, que o têm usado já há vários anos na luta contra a Varroa. Qual será a consequência a médio/longo prazo deste maneio?

Do mesmo modo que o anterior princípio atiro,  se querem usar “amitraz”, usem um dos produtos homologados, tais como o “apivar” e o “apitraz”.

Não posso concluir sem defender uma apicultura sustentável e sem acaricidas sintéticos: “O uso de acaricidas orgânicos (com base em timol e ácidos) a médio prazo possibilita a diminuição da concentração dos acaricidas sintéticos. Até para mais, os acaricidas que podem ser utilizados na Agricultura Biológica não são armazenados na cera como também são evacuados por evaporação durante a centrifugação do mel.”

E assim finalizo a minha trilogia sobre VARROA. Estou e estarei sempre disponível para aceitar e discutir outros pontos de vista, seja pessoalmente, seja por email, seja no meu blog ou noutros grupos na internet onde estou envolvido. Obrigado.

E assim finalizo o tema VARROA, no entanto irá aparecendo com certeza ao longo dos próximos artigos, dado a sua importância para a nossa atividade.

LER TAMBÉM: VARROA(1) e VARROA (2)

Cristóvão Oliveira
— Professor e Apicultor
Artigo Publicado no Jornal +Aguiar da Beira – Outubro/2015

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